A área contábil, em especial os
reguladores e a academia, ainda precisam focar esforços na busca de
metodologias para identificar e mensurar os ativos intelectuais. Por isso mesmo,
hoje em dia, as informações prestadas pela contabilidade aos executivos, donos
das empresas e investidores, de forma geral, vêm ocorrendo de maneira incompleta,
levando-se em conta basicamente os chamados ativos tangíveis. Esta é uma das
conclusões do Seminário “Ativos Intangíveis mudando para Ativos Intelectuais”,
promovido pelo Instituto dos Contadores do Brasil (ICBR), que foi a reunião inaugural
do Comitê Ativos Intangíveis mantido pela entidade.
Os debatedores do evento apontaram
a importância dos contadores se debruçarem sobre o tema, que é de extrema
relevância para o mundo dos negócios e para a própria sobrevivência da profissão.
O conteúdo completo do Seminário estará disponível no Portal do ICBR.
O palestrante Charles Holland,
associado ao ICBR, sócio aposentado da EY e contribuinte
em diversas comissões técnicas no IBGC, ANEFAC e APC, destacou que, atualmente,
90% do valor de mercado das empresas do S&P 500 – índice do mercado de
ações que reúne as 500 maiores empresas listadas nas Bolsas norte-americanas - são
atribuídos aos ativos intelectuais. E, apesar disso, ainda não há uma
metodologia capaz de identificar com confiabilidade esses ativos.
O professor-doutor Sérgio De
Iudícibus, membro do Conselho de Notáveis do ICBR e um dos principais pensadores da Contabilidade brasileira, autor de vários
livros de sucesso na área, confirmou que ainda há grandes barreiras para
que a contabilidade tradicional reconheça os ativos intelectuais como parte do
patrimônio das empresas. Entretanto, o mais importante é que os contadores
tenham capacidade de realizar divulgações relevantes sobre esses ativos, que são
inegavelmente os maiores direcionadores de valor das empresas hoje em dia.
Professor Iudícibus também destacou
que “há 30 anos, era quase impossível mensurar algumas coisas, mas, agora,
com a inteligência artificial, ficou extremamente fácil”. O Notável
comemorou o fato de o ICBR ter abraçado essa bandeira, em especial por ser um
instituto que finalmente dá ao profissional contábil o papel de protagonismo
que merece.
Iudícibus também afirmou que já
há muitas empresas de consultoria que, há muito tempo, perceberam a importância
de certos intangíveis e têm se dedicado aos cálculos desses ativos, como é o caso
das marcas, principalmente. Porém, existem poucos trabalhos de professores que
estudaram as metodologias utilizadas por essas empresas. Um desses trabalhos
teve a participação do professor-doutor Eliseu Martins, também membro do
Conselho de Notáveis do ICBR. Segundo esse trabalho, “não foram festivas”
as conclusões sobre as metodologias empregadas, mas Iudícibus acredita que, desde
a realização do estudo, o assunto já deva ter evoluído bastante. “Os
contadores, administradores de empresas e agências reguladoras, mantêm um
silêncio [sobre os ativos intelectuais] que incomoda e assusta”,
lamentou.
Professor Iudícibus disse não conhecer
forças tarefas criadas para estudar os Ativos Intelectuais, mas, com certeza,
pela relevância do tema, um esforço nessa direção é justificável. Sendo assim, os
órgãos reguladores, como o International
Accounting Standards Board (Iasb) - organismo internacional que emite
as International
Financial Reporting Standards (IFRS) – e o Financial Accounting Standards Board (FASB) - que é a instituição
responsável pela normatização contábil de entidades não governamentais dos
Estados Unidos – devem incentivar esse tipo de ação. “Alguns ainda estão
dormindo em relação ao novo mundo da contabilidade, que são os ativos
intelectuais. Quem não estudar e trabalhar isso, dificilmente arrumará emprego
no futuro, tanto contadores quanto administradores. Mas nós, do ICBR, não
estamos dormindo” destacou o notável.
O mediador do evento, Jorge
Manoel, sócio aposentado da PWC,
conselheiro independente de várias empresas, atuante nas comissões técnicas no
IBGC e APC, congratulou o ICBR por realizar o evento, abrindo as portas
para uma nova vertente do conhecimento e acreditando que o trabalho do ICBR pode
fazer com que o tema evolua muito, principalmente no Brasil.
Informações Inteligentes
Charles Holland agradeceu o
fato de o ICBR ter abraçado essa importante ideia, em especial criando o Comitê
Técnico de Ativos Intelectuais. O palestrante destacou o pioneirismo do
trabalho, que conta ainda com o apoio dos membros do Conselho de Notáveis da
entidade. De acordo com Charles, os investidores, que são os principais
interessados em conhecer o valor dos ativos intelectuais, têm feito suas
aplicações no “escuro” e isso é inaceitável. Quem quer investir na Bolsa, por
exemplo, é obrigado a se posicionar tendo como suporte apenas informações da
contabilidade tradicional, dominada pelos ativos tangíveis. “É preciso acordar para
fazer as coisas na direção certa”, afirmou.
Para ele, a Contabilidade tem
que abraçar esse novo campo, que são os ativos intelectuais, pois os
investidores, executivos e o mercado em geral, necessitam de informações
inteligentes para tomar suas decisões. Charles
chamou a atenção ainda para o dinamismo da comunicação, hoje em dia,
influenciado pelos os avanços da tecnologia, e o impacto disso para as empresas.
O celular (smartphone), por exemplo, se
tornou um mainfraime compacto Inteligente, com aplicativos inteligentes
e gratuitos, como é o Google (“sabe tudo”), que responde sobre quase todos os
temas, nas mais diversas línguas, e isso tem tornado o mundo muito mais competitivo.
Conforme Charles Holland, as
empresas têm acompanhando essa evolução das comunicações, buscando “campeões”
para seus quadros, aqueles que as diferenciam. Para crescer de forma sustentada,
as empresas já entenderam, que é preciso focar nos recursos humanos, tratar bem
as pessoas como forma de valorizar as empresas, “a nova geração não visa só
remuneração, mas sim crescimento profissional, estar em uma empresa que tenha a
missão de melhorar o mundo e tenha, acima de tudo, o DNA de inovação”,
ressaltou.
O palestrante disse faltar
informações sobre os ativos intelectuais das empresas e sua mensuração e muitos
estão acomodados a esse respeito. Ressaltou Charles Holland que IASB e o FASB,
quando abraçam um assunto fazem um trabalho espetacular, e é isso que precisa
ser feito neste momento. Afirmou que accoutability é um conceito que
deve representar “prestação de contas”, por isso a contabilidade precisa
abraçar o assunto dos ativos intelectuais, para “prestar contas” aos dirigentes
das empresas e investidores, de forma mais completa, possibilitando tomadas de decisões
“corretas”.
Charles Holland destacou que
tudo o que se fala em termos de novos empregos está ligado aos ativos
intelectuais, pois na “velha economia” a maior parcela dos processos tem sido automatizada.
Isso faz com que seja necessário estabelecer critérios para mensuração dos
intangíveis, de forma urgente, pois esses são acionadores de valor.
O palestrante disse que a
cúpula das empresas também precisa estar envolvida nos esforços para fomentar
os ativos intelectuais, pois, além de tudo, esse assunto é um dos mais importante
na precificação das organizações. Charles Holland comentou que o contador precisa
urgentemente entender de onde vem o valor das empresas percebido pelo mercado.
Comitê Técnico
O presidente da Diretoria
Executiva do ICBR, André Luis de Moura Pires, destacou que a entidade pretende
realizar um trabalho de aprofundamento da questão com a criação do Comitê
Técnico de Ativos Intelectuais, lembrando que este terá o apoio de um dos
principais ativos intelectuais do Instituto, o professor-doutor Sérgio de
Iudícibus. A Entidade está recebendo a manifestação de interesse dos que
pretendem ser membros do comitê pelo e-mail icbr@icbr.com.br,
sendo necessário ser associado.
André Pires agradeceu aos
apoiadores do evento, ANEFAC e a Ordem dos Economistas do Brasil (OEB). O
presidente também prestou homenagem à Academia Paulista de Contabilidade (APC)
por ter publicado o artigo de Charles Holland, no capítulo 4 (“Os
Conceitos que fundamentam as Normas Internacionais de Contabilidade em vigor
precisam ser atualizadas”), do livro Pronunciamentos Contábeis e Tendências
da Contabilidade, que serviu de base para discussões ao debate do dia.
Membro do Conselho de
Administração, Aderbal Hoppe agradeceu a participação de todos no primeiro
evento público do ICBR, que teve mais de 300 inscrições. Destacou a importância
da entidade que, como disse Sérgio de Iudícibus, tem como protagonistas os
Profissionais da Contabilidade, trabalhando com um viés técnico, em busca constante
da evolução da profissão.
Destacou Aderbal a importância
da demonstração de interesse dos futuros participantes do Comitê Técnico de
Ativos Intelectuais e lembrou que a associação ao ICBR é feita de forma
simplificada, com apenas dois cliques, não sendo cobradas taxas de associação
ou contribuições, ou seja, o custo é zero para os associados. O Instituto preza o direito à livre associação
e, por isso a desassociação pode ser feita a qualquer tempo, com apenas um
clique.
Para se associar, basta clicar aqui.