Por: Ricardo Suave*

 

Estudar é importante para vários aspectos, e mais do que para o desenvolvimento profissional, é importante para crescermos intelectualmente e enquanto pessoas em sociedade. Afinal, como se diz, o conhecimento é uma das únicas coisas que não nos pode ser tirado.

Quando estamos na graduação, geralmente nos ensinam a utilizar ferramentas que nos ajudam a organizar nossos estudos, e uma delas é o fichamento, que é útil na organização de leituras e estudos que são aplicáveis ao trabalho de conclusão de curso, por exemplo. O fichamento pode ser útil a qualquer estudo que realizamos, como forma de catalogar as informações mais importantes para que possam ser consultadas de maneira mais fácil e intuitiva posteriormente.

A importância dos estudos é algo latente, contudo, embora o pensamento e posicionamento críticos sejam sempre requeridos, acabam recebendo menos atenção. Uma experiência que compartilho se refere à minha trajetória acadêmica, que me fez refletir acerca “do aprender a pensar”. Acredito que é relevante, pois precisamos pensar no que estamos estudando.

Essa experiência se refere ao doutorado e pós-doutorado. Durante o doutorado, o que se ouve sempre é a característica do ineditismo da tese, ou seja, a pesquisa que você desenvolve precisa ser única. Talvez por conta disso, criei fichamentos para os vários temas que envolviam a minha tese, a partir da leitura de muitos estudos anteriores relacionados ao tema. Uma das principais preocupações era com o ineditismo. Quem sabe, a contribuição fornecida com o estudo era que devesse ter tido mais atenção.

Já durante o pós-doutorado, a contribuição para área estudada passou a ter uma preocupação maior. Apesar de as leituras de vários estudos e fichamentos também terem sido parte importante do processo, mais do que estudar, parei para pensar no que estava lendo e estudando. É o exercício da reflexão daquilo que se estuda para avaliar criticamente o que tem sido feito até o momento e como se pode ir além.

Acredito que essa experiência pode servir como uma analogia para nosso cotidiano. Com o excesso de informações disponíveis para o consumo, aliado às demandas que nos incitam a estarmos sempre bem-informados, acabamos não refletindo sobre tudo o que aprendemos. Embora às vezes o tempo seja escasso, essa reflexão deveria ser uma constante, para que possamos tirar proveito desse investimento de tempo.

A constância na reflexão acerca do que analisamos pode contribuir para um entendimento mais profundo da informação que consumimos, especialmente por conta de alguns vieses que estamos sujeitos. Por isso, tomem-se como exemplos os vieses da disponibilidade e da confirmação. O viés da disponibilidade é a tendência de usarmos e confiarmos mais nas informações que estão disponíveis mais facilmente, e de considerar essas informações como mais relevantes e mais importantes do que informações que são mais difíceis de se obter. De maneira semelhante, o viés da confirmação se refere à tendência de procurarmos e darmos mais ênfase a informações que são favoráveis a conclusões consistentes com nossas crenças ou preferências iniciais. Estes são apenas dois exemplos de que, mesmo que inconscientemente, podemos avaliar as informações que consumimos de forma tendenciosa, sem pensar ou refletir acerca de outros pontos de vista.

Considerando as variadas fontes de informações que temos à disposição, aliado às múltiplas tarefas que desempenhamos, é compreensível que continuemos nossos estudos, nossas leituras e tarefas sem tirar uma conclusão mais ampla, uma interpretação mais abrangente. Por isso, uma mensagem que deixo é que ler e estudar sempre mais é importante, mas refletir acerca daquilo que estudamos nos torna mais conscientes.

 

* Ricardo Suave é Doutor em Controladoria e Contabilidade pela Faculdade de Administração, Economia, Contabilidade e Atuária (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), mestre em Contabilidade pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e bacharel em Ciências Contábeis pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Atualmente é professor de curso superior em Ciências Contábeis na Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) e no Centro Universitário Campo Real, ambas instituições em Guarapuava-PR.

 

[1] CHANG, Chengyee Janie; LUO, Yan. Data visualization and cognitive biases in audits. Managerial Auditing Journal, v. 36, n. 1, p. 1-16, 2021.