Garantir a aplicação dos princípios ESG (Environmental, Social, and Governance) durante o processo de reestruturação de empresas pode proporcionar vantagens significativas. Estratégias ESG ajudam a restaurar a confiança de clientes, fornecedores e sociedade em geral na empresa que passa por esse momento difícil, em especial quando estão em recuperação judicial. Além disso, a aplicação de ações sustentáveis apoiadas nas práticas ESG, tendem a garantir melhoras consistentes de eficiência operacional, atrair novos investimentos (conhecido no mercado, como dinheiro novo) e garantir a conformidade com regulamentações (compliance).

Essa são algumas das conclusões do painel Agenda ESG e Reestruturação Empresarial: Contexto e Oportunidades, durante o II Encontro ICBR ESG 2024 – Normas e Desafios Profissionais, promovido pelo Instituto dos Contadores do Brasil (ICBR).

No painel, cujo conteúdo foi compartilhado com o Instituto Brasileiro de Recuperação Empresarial Sustentável (IBRES), André Luis de Moura Pires, presidente da Diretoria Executiva do ICBR, Fernando Fonseca, Fábio Astrauska e Luiz Gustavo Bacelar destacaram que ao alinhar suas operações com práticas sustentáveis e responsáveis, as empresas em restruturação podem se posicionar melhor para um crescimento a longo prazo, trazer resiliência em um ambiente econômico cada vez mais orientado mais desafiador, além de criar um ambiente extremamente favorável para se obter bons resultados com a saída das empresas do processo de restruturação.

  

Balizadores

Luiz Gustavo Bacelar, Advogado especializado em Direito Empresarial e Insolvência, destacou que a recuperação judicial é um instrumento que viabiliza reestruturar um negócio, uma empresa em crise. Para ele, é fundamental utilizar as ferramentas ESG como instrumentos balizadores para recuperação de empresa, implementando uma série de medidas para soerguer o negócio, para reestruturá-lo e tirá-lo de crise. “Muitas dessas medidas não são implementadas por falta de norte. A nossa proposta [na condição de consultores e assessores de empresas em recuperação judicial] é trazer as ferramentas e pilares e práticas ESG para balizar as medidas a serem adotadas, para promover o turnaround de uma empresa em crise”, afirmou.

O turnaround é o processo que tem como objetivo recuperar a empresa objetivando a manutenção das atividade operacionais da empresa, , além dos empregos e a geração de riquezas em favor da sociedade em geral, cumprindo assim sua função social do negócio.

Bacelar destaca que a recuperação judicial hoje é um poderoso instrumento para promover a proteção de uma empresa num ambiente de crise e, como consequência, a proteção da própria economia. O advogado afirmou que não basta ajuizar uma recuperação judicial, mas é preciso promover práticas ESG para reestruturar o seu negócio. “Quando você aplica essas práticas capituladas pelo ESG, a chance é sempre maior. Certamente, a empresa terá instrumentos que promovem segurança à reestruturação do negócio, principalmente segurança e clareza”.

 

Agenda de conexão

Fernando Fonseca, economista, fundador e CEO da Multi Capital Solutions, destacou a importante oportunidade de reunir pontos de vistas de diversos profissionais sobre as oportunidades que se tem em relação à adoção de práticas ESG em um ambiente já bem consolidado, como é o caso da recuperação judicial. Segundo ele, diversos profissionais que trabalham nesse processo, deixaram claro que há grandes desafios para disseminar as práticas ESG no judicial, mas também grandes oportunidades, ainda mais no Brasil, que já é protagonista nessa agenda que conecta, ESG e recuperação judicial.

O economista disse que, para conseguir movimentar um maior número de pessoas e voluntários para esse propósito, foi criado o IBRES. A Entidade  busca consolidar todas as ideias apresentadas no painel “para ter um avanço nessa agenda [ESG] à luz do processo de recuperação empresarial, não só judicial, mas extrajudicial também”.

Fonseca disse que ao adotar as práticas ESG, a empresa que está em recuperação judicial passa a ter inúmeras vantagens. Primeiro, “o posicionamento de liderança da empresa”.  Segundo, a empresa passa a pensar mais a focar em como “poderá impactar positivamente suas partes interessadas, os stakeholders:  funcionários, colaboradores, fornecedores e, também, credores”. E, por fim, a administração inicia um processo de “autorreflexão”, da governança. "Então, ela tem uma grande oportunidade de beneficiar seu negócio no final do dia, adotando práticas ambientais, sociais e de governança”, afirmou o consultor.

 

Ligação consistente

Fábio Astrauska, engenheiro (Escola Politécnica – USP) e economista (FEA-USP), com MBA pela FIA-USP em gestão executiva internacional, ressaltou que há uma ligação consistente entre as práticas de ESG e empresas em recuperação, seja em recuperação fora do ambiente judicial ou no ambiente judicial.

Para ele, o maior desafio é chamar a atenção daqueles empresários que entram no processo de recuperação judicial, para o fato de que a adoção de práticas de ESG é benéfica e acelerará ou aumentará as chances de sucesso na saída do processo de recuperação. Astrauska disse que isso é concreto e possível ver quando se compara planos de recuperação judicial bem feitos, bem estruturados e voltados à sustentabilidade, com planos que só levam em consideração apenas os aspectos financeiros mais imediatistas.  As empresas de sucesso que tendem a adotar a planos mais amplos, com outras visões além da financeira, têm mais chance de sucesso do que aquelas que só olham para indicadores de curto prazo. “A aplicação de práticas ESG em recuperação judicial traz melhor direcionamento e clareza”, sentenciou.

 

André Pires, perito em processos de recuperação judicial e presidente do ICBR, ressaltou que, durante a recuperação judicial, a transparência na gestão e a governança eficaz são cruciais para restaurar a confiança dos credores, investidores, funcionários e outros stakeholders na recuperanda. A adoção de práticas ESG sólidas pode demonstrar um compromisso com a sustentabilidade e a responsabilidade, ajudando a empresa a recuperar sua reputação. Lembrou, no entanto, que as empresas precisam comunicação transparente e demonstração de comprometimento com mudanças na gestão, buscando sempre ações propositivas e sustentáveis.

André disse que o processo de recuperação judicial pode ser uma oportunidade para a empresa rever e reformular seus modelos de negócios, para tornando mais sustentáveis. Isso pode incluir a adoção de tecnologias mais limpas, práticas de trabalho justas e melhorias na governança corporativa. “A implementação de práticas ESG ainda tem como reflexo levar a empresa a uma gestão mais eficiente,, atraindo investidores alinhadas com valores de sustentabilidade e responsabilidade social”, afirmou.