A não inclusão do saneamento básico nas excepcionalidades da Reforma Tributária, pode ter grande impacto ao setor, em especial na parcela mais vulnerável da população. Com a proposta atual, a carga tributária do setor passaria de até 9,25% (PIS/COFINS) para uma alíquota estimada de 27% para o conjunto de IBS (17,95%) e CBS (9,05%), com consequente aumento nas tarifas de água e esgoto e a necessidade de incremento dos investimentos estimados para o setor.

O alerta foi feito no encontro dos contadores das maiores empresas de saneamento do País, promovido pelo Comitê Técnico de Saneamento Básico (CTSB), do Instituto dos Contadores do Brasil (ICBR).

Por conta de sua essencialidade, atualmente, o setor de saneamento é contribuinte apenas do PIS/COFINS, muito embora, as empresas do setor também arquem com a cumulatividade do ISS e ICMS, embutidos nos preços dos insumos, mercadorias e serviços utilizados.

De acordo com a estimativa da GO Associados, encomendada pela ABCON SINDCON (Associação e Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto), a carga tributária efetiva (explícita e implícita) incidente sobre o setor de saneamento atualmente é de 9,74% sobre a receita bruta. A incidência efetiva aumentaria em 56%, chegando a 12,9%, com a implementação da reforma proposta. Essa alteração geraria uma série de impactos: com um aumento de 18% nas tarifas de água e esgoto e queda de 26% nos investimentos no setor.

Esses dados são alarmantes, já que 16% dos brasileiros não têm acesso à abastecimento de água, 44% dos brasileiros não têm seu esgoto coletado, além do fato que 49% do esgoto gerado não é tratado conforme dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento - SNIS. Por isso, inclusive, a previsão é de que R$ 893 bilhões seja o volume de investimentos necessário para alcançar a universalização prevista no Marco do Saneamento até 2033 conforme estudo elaborado pela ABCON SINDCON em parceria com a KPMG.

Vinícius Caraça, coordenador do CTSB, destacou que o Comitê dialoga com instituições do setor, como a a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), em busca de conscientização sobre a relevância do tema. Citou que 74% dos brasileiros que não têm acesso à coleta de esgoto têm rendimento mensal abaixo de um salário-mínimo de acordo com levantamento realizado pela ABCON SINDCON com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD. “Isso torna a situação ainda mais sensível”, ressaltou.

A universalização do saneamento trará ganhos para o País, conforme dados do Instituto Trata Brasil e da ABCON SINDCON a previsão é de que R$ 25 bilhões serão a economia total com a melhoria das condições de saúde da população, até 2040; e que R$ 1,4 trilhão será o ganho no PIB do Brasil até 2033 a partir dos investimentos necessários para a universalização. “Não bastasse favorecer quem mais precisa do saneamento básico, a universalização será muito importante para o Sistema de Saúde e para a economia do Brasil”, afirmou Vinicius.

André Luis de Mora Pires, presidente da Diretoria Executiva do ICBR, destacou a importância de o CTBS buscar a sensibilização do Governo Federal e do Congresso Nacional para esses impactos, já que a oneração do setor de saneamento atinge significativamente a parcela mais vulnerável da população, e dificultará o acesso a esse importante serviço, que impacta na saúde e dignidade humana.


Foto: José Cruz/ABr